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terça-feira, 15 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
Porões
O albatroz de sal
de mar
os olhos
de urros
de muros
o mar
de sombras
de sal
os olhos
das ondas
de silêncio
a fraga
de sal.
Joseyell D. Oliveira
Prof. da ECA/EEPMM
A literatura oitocentista de José de Alencar
“TODOS
CATAM SUA TERRA/
TAMBÉM
VOU CANTAR A MINHA”
Estes primeiros versos do poema “Minha terra”,
de Casimiro de Abreu, sugerem a incipiente idéia do novo paradigma literário
que se instala com a obra de José de Alencar, um romântico que entende o contexto
geral do Brasil de sua época e realiza uma obra à frente de sua
contemporaneidade.
O Brasil daquele período, dentre tantas
características, já havia acontecido sua independência, que ocorre em 1822,
passando a uma monarquia. Nesse contexto, era um país ocupado por uma mescla de
várias culturas, o homem português, o negro africano, e o nosso nativo, o
indígena. No entanto, aqui é preciso que se entenda independência até certo
ponto, pois como sabemos essa independência não ocorre de imediato, mesmo dentro
da literatura.
José Martiniano de Alencar, nome que herda do
pai, nasce em 1829, e somente a partir dos 27 anos é que ele produz a sua obra
consagrada pela Literatura Brasileira. A família desse intelectual é oriunda de
berço de pai político e influente no Ceará, onde ainda uma criança, muda
juntamente com a família para o Rio de Janeiro, em função da carreira política
do pai.
Em 1855, esse escritor agora com 26 anos, é
homem com formação no renomado curso de Direito, em São Paulo , e muitíssimo
bem informado em literatura, área pela qual desde a adolescência demonstrou
interesse e que persegue pela faculdade e o restante de sua vida.
A sólida formação intelectual de Alencar
garante mais tarde sua posição de redator de um jornal, que ao ver um de seus
artigos embargados, pareceu por bem sair daquele ofício para, em seguida, ser
redator-chefe de um jornal adquirido que beirava à falência. Referente a este
impedimento, do artigo que não é publicado, este episódio representa um motivo
importante para ser esclarecido. Ocorre que, o conteúdo ali expresso critica
diretamente à política do país de então, sendo o responsável pela crise, alguém
cujo nome é um tanto representativo, D. Pedro II. Assim, o jornal que possui
seus interesses particulares é prudente em se opor à divulgação; divulgações
com caráter de denúncia social, denúncia que Alencar realiza em sua vida.
Essa postura do Alencar também jornalista, de
criticar a monarquia no ato de suas atribuições, custou muito a ele, tanto na
política quanto na literatura daquela época. Ele encontra nessas críticas a
oportunidade de responder, com veemência, aos embargos que sofre. Alencar mais
tarde passaria por situação semelhante. Vamos sem delongas a este fato:
Alencar sempre vê episódios como esse em sua
vida algo como orgulho ferido. Um ano antes da publicação de “O Guarani”, em
1857, publica-se um poema épico cujo nome é “A confederação dos tamoios”, de
Gonçalves de Magalhães. Da temática, logo é possível inferir que narra sobre o
indígena. A partir desta publicação, sai nos jornais da época, uma série de
respostas em forma de cartas anônimas, assinadas sob o pseudônimo de “ig”, com
revelações extremamente importantes para entendermos a ascensão literária de
José de Alencar.
Essas cartas, claro, nada mais podiam ser do
que uma nova resposta de Alencar. Com a publicação do texto épico, orquestrado
com a participação direta do monarca, enciumado pelos dotes literários de
Alencar, vê, em Magalhães, uma forma de diminuir os méritos daquele que seria o
maior ícone da prosa romântica. Em contrapartida, Alencar foi contundente nas
críticas presentes em suas cartas, que são críticas ferrenhas à Magalhães pela
forma do poema que escreve. Alencar, porém, nos presenteia ao dirigir seus
comentários ácidos, com elementos fundamentais que ele auxiliaria em sua obra.
É a intromissão de Alencar enquanto crítico
literário que dará novos rumos à literatura.
Diante do espírito de liberdade em voga, ou seja, com o espírito de
independência ainda recente, com as influências estrangeiras à literatura, como
dissemos no exemplo acima, com a presença de diversas culturas aglutinadas,
tudo isso, suscita num homem de fecundas leituras, exporem-nas no que ele pensa
e sustentaria doravante.
Com esta visão perspicaz, Alencar se tornaria
o grande escritor brasileiro que é. Não mais escrevendo como fez Magalhães, que
ainda escrevia baseado nos moldes segundo até como fizeram os nossos árcades
mineiros, com outra temática é evidente. Alencar assim, prevê a necessidade de
si fazer da literatura uma nova poesia tanto
na forma como no conteúdo, definindo uma marca originalmente nacional.
Rebate a forma utilizada por Magalhães dizendo
que o modelo como Homero cantou os Gregos ou “o verso que disse as desgraças de
tróia e os combates mitológicos não podem exprimir as tristes endeixas do
Guanabara e as tradições da selvagem América”.
Ao dizer essas verdades naquelas citadas
cartas, narra Heron de Alencar:
“...Alencar sai a campo sai a campo para
criticar A confederação dos tamoios negando-lhe validade como expressão da nossa literatura e da nossa
nacionalidade. E seu trabalho (ou seu projeto, como denominaremos mais adiante)
é o resultado de estudo que parece haver realizado em três sentidos: os tratados de retórica, para captar
as regras e os princípios orientadores das formas e gêneros literários então
vigentes; a leitura das grandes epopéias da literatura universal, de Homero a
Chateaubriand, para saber em que medida e até que ponto elas correspondiam a
uma exigência de afirmação nacional; e, finalmente, a análise das condições
históricas brasileiras, para estabelecer as necessárias diferenças entre o
Brasil e países mais adiantados e mais velhos, compreender que a nossa
incipiente literatura pedia outros fundamentos e orientação mais moderna”
Ainda,
segundo este estudioso, Alencar faz:
“cita Homero 24 vezes, chateaubriand
18, virgílio 17, Milton 13, Camões 8, Byron, Lamartine e Tasso 7 e Dante 5,
analisando quase como um preceptista, o caráter e a significação da epopéia; na
base disso, então, estuda o poema de Magalhães, do ponto de vista da técnica em
relação aos clássicos e modernos, e do ponto de vista temático em relação ao
Brasil, para concluir que em ambos os aspectos ele era inquestionavelmente
falho”
Em 1857, portanto, dá-se início à publicação
do livro “O Guarani”, em folhetins diários. Esta obra aborda a temática do
poema de Magalhães, porém com uma forma extremamente inovadora. “Fez um romance
com tal encanto e interesse que obrigou o público a diariamente disputar o
jornal que o publicava, para lê-lo impaciente, ali mesmo nas ruas...”. Depois,
comenta brevemente sobre a obra “é romance bem feito, de sólida estrutura e
mesmo de ousada arquitetura”.
Alencar, segundo o pesquisador consultado,
Heron de Alencar, demonstra grande engenhosidade ao compor esta narrativa, isto
comprova que ele não era um mero escritor iniciante. Pode-se dizer, em prova
disso, que, numa das características mais enaltecedoras da obra e que chamam a
atenção dos leitores de imediato contato com a leitura de O guarani, é a
excessiva descrição dos fatos narrados. Porém, é esta uma característica
explicável. Neste caso, Alencar é influenciado por chateaubriand, deste ele capta
elementos que fundamenta a sua proposta de escrita na concepção do que podemos
compreender como romance poemático. Assim, justifica-se o gosto Alencariano de,
por exemplo, (da) “forma lírica, do tom melódico, da preocupação ornamental, da
poesia como pintura...”.
Os estudos deste grande literato são de
enriquecedor valor a sua obra. É com base neles, que vamos demonstrar o que
Alencar conclui como sendo pertinente para compô-la. E assim estabelecer em
qual fase ele encaixa O guarani.
Aquele projeto, como já mencionado, busca, a
partir das pesquisas relativas aos tratados de retórica, dos estudos dos poemas
épicos clássicos mundiais e do estudo histórico do Brasil, distribuir sua
produção literária numa divisão por períodos, onde cada um de seus livros ocupa
a função de registrar literariamente cada fase estudada, mapeando assim o
Brasil desde sua “descoberta” até sua independência política. Na verdade, aqui
podemos entender o quanto e qual é a real intenção de Alencar, ou seja, nitidamente
nacionalista.
Os períodos são divididos em consonância com
o projeto, assim: a fase primitiva – ou aborígene – compreende “as lendas e
mitos da terra selvagem e conquistada, as tradições que teriam embalado a
infância do nosso povo, e a ela pertencia Iracema”.
O segundo período chamado de histórico,
“representaria o consórcio do povo invasor com a terra americana e termina com
a independência”. Neste período, inclui-se O guarani.
A terceira fase, portanto, é “a infância da
nossa literatura, começada com a independência política”, porém, a que se fazer
reserva ao dizer que essas fases foram o limiar de fato da pretendida
literatura como defende seu autor.
Todavia, é muito rico este assunto a ser
debatido, que aqui, no plano da escrita e condensado, deve, senão, ser
mencionado a fim de que se agregue valor à nossa pesquisa. Mas priorizamos a análise
do livro O guarani tão somente, ainda que incluindo informações relacionadas à
vida e obra autor, em detrimento da análise de sua obra de um ponto de vista
genérico.
Joseyell D. Oliveira
Prof. ECA/EEPMM
Prof. ECA/EEPMM
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